segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Debate "Economia e Emprego" - Uma Empresa é um Bem Social

O ciclo de debates “O papel dos Municípios no desenvolvimento”, organizado pela Concelhia do PS de Arganil, teve continuidade no passado sábado em Coja, com um encontro subordinado ao tema “A Economia e Emprego”, tendo para o efeito sido convidados um conjunto de oradores com reconhecido conhecimento ou vasta experiência prática nesta área, Patrick Dias da Cunha, Carlos Santos e o Deputado e antigo ministro da Economia, Vieira da Silva.
A sessão teve início com a intervenção de Miguel Pinheiro, membro da CPC de Arganil, que moderou o debate e trouxe um conjunto de dados caracterizadores do perfil sócio-económico do concelho de Arganil. Da situação de “Inverno demográfico” à estagnação económica, da subida do desemprego à quebra do poder de compra, passando pelo subaproveitamento do potencial produtivo do território, o endividamento das famílias entre outros aspectos.

Deixou ainda um conjunto de questões estratégicas que no seu entender, se forem debatidas, discutidas e programadas, poderão ajudar a recentrar prioridades e a encontrar novos rumos para a política de desenvolvimento concelhio.

O Presidente da Concelhia de Arganil, Miguel Ventura referiu-se à importância destes debates enquanto veículo de auscultação das preocupações e anseios das populações, agradecendo a presença de todos nomeadamente dos empresários locais, do representante da Federação Distrital do PS, Ricardo Cruz, na impossibilidade da presença do Presidente Pedro Coimbra, pelo facto de estar a decorrer em Coimbra uma reunião do LIPP, referindo ainda a presença do Deputado Mário Ruivo.

Tendo recordado a oportunidade promovida pelo PS de Arganil em Fevereiro de 2012 com o encontro em Arganil, entre deputados eleitos pelo Distrito de Coimbra e empresários, referiu-se a estes últimos como “verdadeiros heróis”, dado momento difícil que atravessam agravado pela política do actual governo, pela brutalidade da carga fiscal e ainda pela atitude irresponsável da generalidade da banca.

Sublinhou então, que é necessária uma nova perspectiva na política económica - revisão da política fiscal, discriminação positiva, linhas de crédito para capitalização da tesouraria das empresas, proximidade na gestão do programa Valorizar, entre outras, bem como que é fundamental que o Interior não seja duplamente prejudicado e que o conceito de coesão territorial seja uma realidade, com medias efectivas para territórios de baixa densidade.

A nível Municipal, Miguel Ventura referiu a importância da fixação de população, com a criação de um ambiente favorável ao investimento., tendo defendido a dinamização de um Gabinete de Apoio ao Empresário com o objectivo de captar e facilitar o acolhimento de novos investidores e consequentemente novos empregos. Falou ainda da necessidade de requalificação das zonas industriais existentes.


O conhecimento e a sua ligação ao tecido empresarial, foi tido como aspecto a reforçar, propondo a criação de uma ligação estreita entre o Instituto Pedro Nunes e o Município de Arganil, através do programa INOV C, de modo a facilitar a capacitação das empresas locais e da atracão de empresas com elevada componente tecnológica e de inovação.

Por fim foi ainda sublinhado pelo Presidente da CPC a importância do Turismo, da Floresta e da aposta nos produtos locais como vectores fundamentais para o desenvolvimento económico do concelho.


Através de comunicação apresentada por Daniela Santos, o empresário e antigo Presidente da Associação da Industria de Panificação de Portugal Carlos Alberto Santos, abordou a dificuldade de levar a cabo a sua actividade por via dos elevados encargos que lhe estão subjacentes e da difícil situação económica do país agravada pela política errada e destrutiva do actual governo de Portugal. Referiu-se ainda à sua acção enquanto dirigente do sector e também neste aspecto sublinhou a dificuldade de fazer passar o conhecimento e experiência acumulados por parte de quem está no terreno aos decisores das estratégicas para o sector.

Patrick Dias da Cunha, empresário em São Martinho da Cortiça e Moçambique, efectuou uma breve apresentação do seu interessante percurso de vida, pontuado por acontecimentos que, tanto na sua formação como no seu percurso profissional, o ajudaram a definir a sua matriz ideológica e a forma de pensar a Sociedade onde vive. Sobre este aspecto definiu-se como social-democrata, reforçando o termo “social” enquanto alguém que anseia por uma Sociedade mais justa, acreditando num capitalismo com regras.

Desta forma, distancia-se da visão e prática neo-liberal de quem nos governa, que caracterizou como “veneradores dos Mercados”, a quem anseiam agradar a qualquer custo.

Referindo-se ao papel dos Municípios, centrou a sua intervenção na capital importância do cargo de Presidente da Câmara, que deve, no seu entender funcionar como elemento aglutinador e mobilizador de uma estratégia de desenvolvimento inovadora mas consentânea com os valores culturais e naturais. Como exemplo prático referiu-se a uma intenção de investimento turístico de larga escala na freguesia de S. Martinho da Cortiça, que podendo eventualmente funcionar até como factor de incremento económico na freguesia, não teria sido devidamente ponderado e discutido de uma forma alargada, deixando no ar questões sobre a sua real relevância para o concelho ou mesmo sobre o seu concreto impacte nos recursos naturais.

O conjunto de intervenções foi encerrado por José Vieira da Silva, Dirigente Nacional do PS.

A oportunidade de poder ouvir a visão de um responsável político de tal importância e relevância foi fundamental para uma melhor percepção da situação actual de Portugal. Vieira da Silva explanou em Coja a diversidade de factores que concorreram para a crise internacional, reenquadrando-a desde 2007, altura em que todos os acontecimentos ao nível do sistema financeiro americano difundiram ondas de choque a nível global, com repercussões brutais em economias mais vulneráveis como a portuguesa.

Relembrou os últimos acontecimentos da governação do PS e dos esforços de evitar uma entrada do FMI em Portugal, nomeadamente na questão da abertura das instâncias europeias à apresentação de Programas de Estabilidade e Crescimento e que decorrente do seu chumbo por parte do PSD, precipitou o pedido de ajuda externa. Sublinhou ainda a assunção prévia e pronta disponibilidade do actual primeiro-ministro em governar com o FMI.

Em suma, tratou de referir da intensidade desproporcional das medidas de austeridade preconizadas pelo actual Governo, muito para além do acordo com a Troika e que indiciam elas próprias uma matriz ideológica, uma prática e uma agenda de prioridades distinta da do Partido Socialista.


Em seguida, foi dada a palavra aos presentes, que encheram por completo a Biblioteca de Côja, e a resposta foi um conjunto de intervenções de grande interesse e acutilância, que enriqueceram em grande escala o debate. Foram levantadas questões relacionadas com aspectos ideológicos e de cariz doutrinário de base política bem como assuntos concretos que derivam da situação do concelho de Arganil.

Neste aspecto foram elencados exemplos de falta de estratégia e de inacção por parte da Câmara Municipal de Arganil, no sentido da sua obrigatória acção de melhoria do estado actual da economia local e da vida das populações, bem como na definição dos eixos de desenvolvimento futuro para o concelho.

A sessão terminou com encontro marcado para o próximo debate, no início do mês de Março e que decorrerá sobre o tema da “Acção Social e Saúde”.

Uma palavra final para agradecer a presença de todos os que escolheram ir a Coja, num dos sábados mais chuvosos e ventosos dos últimos tempos. Uma sala cheia é sempre motivo de satisfação e vitalidade, mas nestas condições é também um sinal de estímulo.

Até ao próximo debate!